O relógio que engana o
tempo fútil
por Roberth Fabris –
análise do conto A espera
Num primeiro momento é um romance, no segundo um tempo de
descobrir o passado e em outros me pego observando as personagens que são
tipos, mas que se escondem um Q de redondo em sua performance. Ansiedade, medo,
angústia e acima de tudo a expectativa de ser bem aceita, assim a protagonista
se vê num duelo com a sua espera, a espera da vida, a espera de encontrar um
rumo em que se apoiar. Até mesmo lembra a infancia, os segredos de família e a
relação que pretente ter tanto com a sua paixão, como pela paixão de se viver.
De tão banal e corriqueiro se torna belo e verdadeiro, me fez lembrar do ótimo
curta Avião de papel, da Disney e Pixar, que ganhou diversos prêmios... mas
acima de tudo nos faz pensar que a entrevista de emprego também é uma paixão
nacional.
O tic tac do relógio, a forma como as coisas acontecem e as
frases corriqueiras e cortadas todo tempo, nos mostram que este escritor tem
muito talento de tirar da futilidade e do cotidiano algo mais que muitos não
conseguiram ver. Um tipo de Proust abrasileirado, ou um Dickens afortunado,
nada disso, apenas um tipo de escrita que nos instiga, nos faz rir, brincar com
a vida, pensar na nossa propria família e ainda adentrar num tempo onde o relógio
não pára. A angustia da personagem principal me fez também relembrar o ótimo
romance O Guardião do tempo, em que uma das personagens precisa lidar com o seu
corpo e suas paixões e o desencantamento com o namorado, ou possivel namorado.
Mas o autor deste conto nos dá um soco no estomago e muda tudo, o que era para
ser apenas um romance entre dois seres afortunados pelo cupido, se torna algo
vivo e fugaz que nos remete ao tempo presente, onde o emprego é tudo em nossa
sociedade... ate mesmo se torna algo que vale ouro... quem trabalha ganha o pão
de cada dia, mas em cada novo dia uma entrevista de emprego se torna algo
pesaroso e repleto de tiques e modos para se enfrentar. Uma prova de fogo, uma
prova de valor, uma prova de tortura mas que eleva os que estão preparados para
vivenciar a sociedade do capital.
Do cotidiano para a vida, da vida para a familia, da alegria
para as memórias, da futilidade de ser livre para o tempo de ser empregada e
ganhar o seu extra ao final do dia. Parabens, um conto assim nos deixatigados
para ser ainda mais nacional e digno de tempos memoráveis para o nosso Brasil.
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